sexta-feira, 15 de maio de 2009

Amor Próprio

Amor Próprio, nada mais é do que amarmos o que somos, como somos do jeito que somos. Ta, tudo bem que isso as vezes é difícil, aquele fiapo de cabelo pra cima, aquele nariz torto, a voz feia, aquela espinha cabalística na ponta do nariz (torto).

Muitas vezes, confundimos amor próprio com egocentrismo, ahhh o egocentrismo, palavra formal para egoísmo. Amar a si próprio não é isso.

Quem não ama a si mesmo, não sabe reconhecer virtudes, defeitos, não sabe vivenciar o que melhor a vida tem para oferecer, a felicidade, entre outros, quem não ama a si mesmo, não está pronto para amar a mais nada.

Quem se ama, sorri mais, fala mais (ou ouve mais), vive mais, pois quem se ama, não tem vergonha de ser quem é, de usar aquela roupa cafona, de usar aquele chapéu engraçado, de ter aquele cabelo pintado de uma cor diferente. Porém você se engana se acha que quem se ama, quer aparecer, na verdade quem se ama quer viver, sorrir, sonhar, poder ser sem temer.

Quem se ama pode dizer: Amo e sou amado. Oras, pare para pensar, quantas vezes não curtiu aquela tarde na companhia de si mesmo, você e você vendo o sol se por, vendo as estrelas, curtindo uma boa música, pensando talvez em nada, apenas namorando a si mesmo.

Mas quem não se ama, padece de si mesmo, afunda na lágrima da solidão, no escuro da incompreensão, no grito de desespero, no aperto no peito, por falta de calor.

E para complementar o que escrevo pego emprestadas as palavras de Fernando Anitelli (O Teatro Mágico) em sua poesia “Insetos Interiores”

“Notas de um observador:

Existem milhões de insetos almáticos.
Alguns rastejam, outros poucos correm.
A maioria prefere não se mexer.
Grandes e pequenos.
Redondos e triangulares,
de qualquer forma são todos quadrados.
Ovários, oriundos de variadas raízes radicais.
Ramificações da célula rainha.
Desprovidos de asas,
não voam nem nadam.
Possuem vida, mas não sabem.
Duvidam do corpo,
queimam seus filmes e suas floras.
Para eles, tudo é capaz de ser impossível.
Alimentam-se de nós, nossa paz e ciência.
Regurgitam assuntos e sintomas.
Avoam e bebericam sobre as fezes.
Descansam sobre a carniça,
repousam-se no lodo,
lactobacilos vomitados sonhando espermatozóides que não são.
Assim são os insetos interiores.

A futilidade encarrega se de "mais tralos'.
São inóspitos, nocivos, poluentes.
Abusam da própria miséria intelectual,
das mazelas vizinhas, do câncer e da raiva alheia.
O veneno se refugia no espelho do armário.
Antes do sono, o beijo de boa noite.
Antes da insônia, a benção.

Arriscam a partilha do tecido que nunca se dissipa.
A família.
São soníferos, chagas sem curas.
Não reproduzem, são inférteis, infiéis, "infértebrados".
Arrancam as cabeças de suas fêmeas,
Cortam os troncos,
Urinam nos rios e nas somas dos desagravos, greves e desapegos.
Esquecem-se de si.
Pontuam-se


A cria que se crie, a dona que se dane.
Os insetos interiores proliferam-se assim:
Na morte e na merda.

Seus sintomas?
Um calor gélido e ansiado na boca do estômago.
Uma sensação de: o que é mesmo que se passa?
Um certo estado de humilhação conformada o que parece bem vindo e quisto.
É mais fácil aturar a tristeza generalizada
Que romper com as correntes de preguiça e mal dizer.
Silenciam-se no holocausto da subserviência
O organismo não se anima mais.
E assim, animais ou menos assim,
Descompromissados com o próprio rumo.
Desprovidos de caráter e coragem,
Desatentos ao próprio tesouro...caem.
Desacordam todos os dias,
não mensuram suas perdas e imposturas.
Não almejam, não alma, já não mais amor.
Assim são os insetos interiores.”

Agradecimento à Gabriela Rolim do Agente Polinizador, por ter inspirado esse post.